Saúde JB Saúde
Tudo o que você precisa saber sobre a hepatite B: causas, sintomas, diagnóstico e prevenção
A hepatite B é uma infecção viral que afeta o fígado e representa um dos maiores desafios de saúde pública em todo o mundo.
Estima-se que mais de 296 milhões de pessoas vivam com infecção crônica por hepatite B, das quais cerca de 820 mil morrem anualmente devido a complicações como cirrose e carcinoma hepatocelular.
Neste artigo, exploraremos em detalhes tudo sobre a hepatite B: sua definição, formas de transmissão, quadro clínico, métodos de diagnóstico, opções de tratamento, estratégias de prevenção e o impacto global desta doença.
O que é hepatite B?
A hepatite B é causada pelo vírus da hepatite B (HBV), um vírus de DNA da família Hepadnaviridae. Diferentemente da hepatite A, que tem curso geralmente agudo e autolimitado, a hepatite B pode evoluir tanto de forma aguda quanto crônica:
-
Hepatite B aguda: caracteriza-se pelos sintomas iniciais da infecção e pode ser assintomática em cerca de 70% dos adultos, ou apresentar manifestações como icterícia, fadiga e dores abdominais.
-
Hepatite B crônica: definida pela persistência de antígeno de superfície do HBV (HBsAg) por mais de seis meses. É nessa forma que o risco de complicações graves aumenta, inclusive cirrose e câncer de fígado.
Como a hepatite B é transmitida?
A transmissão da hepatite B ocorre principalmente por exposição a fluidos corporais infectados pelo HBV. As principais vias incluem:
-
Transmissão perinatal (mãe-filho)
-
Quando uma gestante portadora de HBV passa o vírus para o recém-nascido no momento do parto. Sem intervenção, a taxa de transmissão pode chegar a 90%. A vacinação imediata e a administração de imunoglobulina específica reduzem esse risco para abaixo de 5%.
-
-
Transmissão parenteral
-
Uso compartilhado de seringas e agulhas em usuários de drogas injetáveis.
-
Procedimentos médicos, odontológicos ou estéticos sem esterilização adequada de materiais perfurocortantes.
-
Transfusão de sangue e derivados, embora atualmente esse risco seja muito baixo em razão dos testes de triagem.
-
-
Transmissão sexual
-
Sexo desprotegido com pessoa infectada, sobretudo em relações heterossexuais e, principalmente, entre homens que fazem sexo com homens (HSH).
-
-
Outras vias potenciais
-
Contato com feridas abertas ou mucosas expostas a sangue contaminado.
-
Entender as vias de transmissão é crucial para implementar medidas de prevenção efetivas e reduzir a incidência de novas infecções por hepatite B.
Sintomas da hepatite B
Os sintomas da hepatite B variam conforme a forma de apresentação (aguda ou crônica) e a resposta imunológica do indivíduo:
-
Fase aguda (inicial, até 6 meses após exposição):
-
Icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas)
-
Urina escura
-
Fezes claras
-
Fadiga intensa
-
Náuseas e vômitos
-
Dor no quadrante superior direito do abdome
-
Febre baixa
-
-
Forma crônica (perpétua, após 6 meses):
-
Geralmente assintomática nos estágios iniciais
-
Fadiga persistente
-
Perda de apetite
-
Dor abdominal leve
-
Nas fases avançadas, sinais de cirrose (ascite, varizes esofágicas, encefalopatia hepática) e risco aumentado de carcinoma hepatocelular.
-
É importante salientar que, em muitos casos, a hepatite B crônica só é diagnosticada em exames de rotina ou quando surgem complicações hepáticas, o que reforça a necessidade de rastreamento em grupos de risco.
Diagnóstico da hepatite B
O diagnóstico laboratorial da hepatite B baseia-se na detecção de marcadores sorológicos e na avaliação de função hepática:
-
Marcadores sorológicos
-
HBsAg (antígeno de superfície do HBV): presença indica infecção aguda ou crônica.
-
Anti-HBs (anticorpo contra HBsAg): sinal de imunidade por vacinação ou cura da infecção.
-
Anti-HBc IgM (anticorpo IgM contra núcleo viral): marcador de infecção aguda recente.
-
Anti-HBc total (IgM + IgG): indica exposição passada ou atual.
-
HBeAg (antígeno “e”) e Anti-HBe: refletem replicação viral e infectividade.
-
-
Carga viral (HBV DNA)
-
Quantificação do DNA do HBV por PCR em tempo real. Esclarece o grau de replicação viral e auxilia na decisão terapêutica.
-
-
Avaliação da função hepática
-
Testes de ALT, AST, fosfatase alcalina e bilirrubinas.
-
Marcadores de fibrose (elastografia hepática/FibroScan® ou biópsia).
-
-
Exames complementares
-
Ultrassonografia abdominal para avaliação de alterações hepáticas.
-
Tomografia ou ressonância em casos selecionados para detecção de lesões nodulares.
-
O rastreamento de hepatite B é recomendado para gestantes, profissionais de saúde, usuários de drogas injetáveis, pacientes em hemodiálise e pessoas com múltiplos parceiros sexuais.
Tratamento da hepatite B
O tratamento da hepatite B varia conforme a fase e a presença de atividade viral e lesão hepática:
Tratamento da fase aguda
-
Geralmente, suporte clínico: repouso, hidratação, dieta leve.
-
A maioria dos adultos se recupera espontaneamente sem necessidade de antivirais.
Tratamento da hepatite B crônica
Indicadores para tratamento:
-
Carga viral (HBV DNA) elevada (> 2.000 UI/mL em pacientes HBeAg negativos ou > 20.000 UI/mL em HBeAg positivos).
-
ALT persistentemente elevada.
-
Evidência de fibrose significativa ou cirrose.
Opções terapêuticas:
-
Análogos de nucleosídeos/nucleotídeos
-
Tenofovir disoproxil fumarato (TDF)
-
Entecavir (ETV)
-
Tenofovir alafenamida (TAF)
-
Vantagens: potentes, alta barreira genética, administrados por via oral.
-
-
Interferon peguilado
-
Administração subcutânea semanal por 48 semanas.
-
Desvantagens: efeitos colaterais importantes (síndrome gripal, alterações hematológicas e psiquiátricas).
-
O objetivo do tratamento é suprimir a replicação viral, normalizar enzimas hepáticas e, preferencialmente, induzir soroconversão de HBeAg e HBsAg.
Prevenção da hepatite B
A prevenção da hepatite B baseia-se em três pilares:
-
Vacinação
-
A vacina contra hepatite B é segura, altamente eficaz (> 95%) e está incluída nos calendários básicos de vacinação infantil na maioria dos países.
-
Esquema: três doses (0, 1 e 6 meses).
-
Indicações especiais: recém-nascidos de mães HBsAg positivas, profissionais de saúde, populações vulneráveis.
-
-
Redução de riscos comportamentais
-
Uso de preservativos em todas as relações sexuais.
-
Não compartilhar seringas ou objetos cortantes.
-
Adoção de práticas seguras em manicures, tatuagens e procedimentos invasivos.
-
-
Triagem e tratamento de gestantes
-
Testagem de todas as gestantes para HBsAg.
-
Administração de imunoglobulina (HBIG) e primeira dose de vacina no recém-nascido nas primeiras 12 horas de vida.
-
A combinação de vacinação em massa, educação em saúde e rastreamento contínuo tem se mostrado a estratégia mais eficaz para controlar a disseminação da hepatite B.
Impacto Global da hepatite B
A hepatite B é responsável por aproximadamente 887.000 mortes por ano, principalmente por cirrose e câncer de fígado. A maior carga da doença concentra-se na África Subsaariana e na Ásia Oriental, onde a prevalência de HBsAg em adultos supera 5%. Nos países desenvolvidos, a prevalência é menor (< 2%), mas ainda ocorre transmissão em grupos de risco.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu metas para eliminar a hepatite viral como ameaça à saúde pública até 2030, incluindo:
-
Reduzir em 90% a incidência de novas infecções por hepatite B.
-
Reduzir em 65% a mortalidade por hepatite viral.
Essas metas exigem investimentos em:
-
Acesso universal à vacinação.
-
Expansão do diagnóstico e do tratamento.
-
Monitoramento e vigilância epidemiológica.
Mitos e Verdades sobre a hepatite B
Mito | Verdade |
---|---|
“A hepatite B só se transmite por sexo.” | Falso. A transmissão perinatal e por compartilhamento de agulhas são rotas comuns. |
“Se eu estiver vacinado, nunca vou ter hepatite B.” | Verdadeiro, desde que o esquema vacinal esteja completo e não haja falha de resposta imunológica. |
“A hepatite B crônica é sempre fatal.” | Falso. Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, muitos pacientes têm sobrevida semelhante à população geral. |
“Não há cura para hepatite B.” | Parcialmente verdadeiro. Há controle viral eficaz; no entanto, a eliminação completa (perda de HBsAg) é rara. |
Conclusão
A hepatite B permanece como uma das principais causas de doença hepática e mortalidade relacionada ao fígado em todo o mundo.
A compreensão aprofundada sobre o vírus, suas formas de transmissão, métodos de diagnóstico e opções terapêuticas, aliada a estratégias robustas de vacinação e prevenção comportamental, é fundamental para controlar e, eventualmente, eliminar a doença como problema de saúde pública.
Seja você profissional de saúde, gestor de programas de vacinação ou indivíduo em busca de informação, compartilhar conhecimento sobre a hepatite B e adotar práticas preventivas são passos decisivos para reduzir a carga desta infecção milenar.
Seja o primeiro a comentar!